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Atacama de Kombi - Partindo para 700km de reta...

Fiz a quebra só para dar a continuidade certa, ainda estamos na meia noite e um minuto quando seguimos para o portão do Camping para sairmos. Chegando lá vimos as gurias correndo feito umas doidas pela rua, abrimos o portão e elas entram como foguetes. Até se acalmarem e contarem o que estava acontecendo o clima pesou. Pelo que pude entender tentaram roubar o celular da Andréia, uma amiga das gurias que conhecemos no dia anterior, e o Cláudio é que chegou e colocou os meliantes para correr. "Má zá Cláudio!", como as gurias estavam assustadas ainda resolvemos entrar e ficar conversando. Mostramos a nossa futura rota, mostramos as fotos que já havíamos tirado. Conversamos sobre Arapongas e fizemos um cambio de palavrões e jargões para algumas partes do corpo. Depois de falar muita bobagem e rir um bocado, resolvemos sair e fazer festa em algum bar da cidade. Dois grupos se formaram, seguindo mais a frente em um passo bem acelerado estavam Gustavo, Vini, Mória, Cláudio, Andréia e Yanina e mais atrás estava eu e a Soledad. Durante o caminho ela me contou como foi a tentativa de roubo, falou sobre a cidade e o desleixo com a natureza. Ao que rebati que no Brasil, mesmo sendo conhecido como o lugar do verde, a coisa não muda muito. Mesmo tendo leis específicas, órgãos específicos a coisa não funciona muito bem. Só em alguns lugares é que o Meio Ambiente anda na linha. Durante o caminho vimos que tínhamos vários interesses em comum, natureza, mar, barcos, a cada quadra via que os interesses iam se encontrando. Soube que ela escreveu um livro de poesias, e prometi que lhe enviaria a obra completa da viagem quando acabasse de escrever fazendo assim uma troca. Quando olhamos para frente estávamos no centro, em frente ao casino onde a mãe da Mória trabalhava, nos apresentamos e seguimos para o bar que Mória estava nos levando. Mais algumas poucas quadras e finalmente chegamos, estava lotado, tinha gente saindo pelo ladrão. Entramos e sentamos em uma mesa perto da porta. O lugar estava muito quente e pedimos para a "moça" (garçonete) se tinha outro local. Ela nos leva para o mezanino do bar.
O lugar era sem dúvida melhor, ar condicionado, menos balburdia. Não estávamos interessados em buscar novas pessoas, queríamos ficar conversando com os nossos novos amigos. Durante as duas cervejas conversamos sobre o que tínhamos visto até o momento, sobre as Arapongas. Fomos apresentados ao primo de Soledad que estava no bar também e que se juntou a nós para saber o porque riamos tanto. Mais um que soube sobre as Arapongas, e em comparação falou sobre uma figura que também é uma lenda na Argentina. Que é muito poderosa, tal como a Araponga, o "pomberito" – busca mulheres virgens, deixa os futuros noivos enciumados, por tentar conquistar suas mulheres. Daí entramos em uma discussão, que nada era tão forte como a Araponga, Vini com seu sotaque "Padre Quevedo" explicou sobre a Araponga Negra e seu grito estridente, e enfim todos concordaram que a Araponga era mais forte. Já eram quatro horas da madrugada quando tomamos a última cerveja e fomos embora, no caminho de volta passamos pela praça central, foi quando ficamos sabendo sobre o nome da cidade, sobre a história das estátuas que relatei antes. Quando estávamos encaminhados a Yanina viu os ladrões que tentaram roubar o celular de Andréia. Voltamos e seguimos por outro caminho, durante o retorno tentamos acalmar a Yanina que estava muito nervosa por ter visto os ladrões novamente. Fizemos algumas voltas e seguimos por outra quadra e aí sim estava tudo ok, nos despedimos, tiramos uma série de fotos. Nos despedimos novamente, mais fotos. Na verdade nenhum dos lados queria realmente se despedir. Fazíamos qualquer coisa para puxar algum assunto. Resolvi pedir como sairíamos da cidade para seguir a Salta. Cláudio toma a frente e desenha um mapa no chão. Dadas as direções, por sorte ou azar, apareceram os meliantes novamente, agora Yanina decide que íamos embora de táxi. Seguimos mais umas quadras para baixo e fomos até um ponto de táxi. Mória fala com o taxista e se informa de quanto seria o valor, 3 pesos até o camping. Agora estava na hora de se despedir realmente. Uma despedida emocionante, por pouco não vou as lágrimas. Para que a coisa não fosse pior entramos no carro e seguimos.
Silêncio até o camping, só se ouvia o barulho do carro e os suspiros do pessoal que sem dúvida queria ficar. Chegamos no camping, tivemos que pular a cerca pois Pedro tinha fechado o portão e não estava na portaria, entramos e chegamos na Kombi, silêncio mortal ainda. Já eram 5 horas da manhã, como partiríamos às 6 resolvi ir arrumando tudo e ser o primeiro motorista da reta que iríamos encarar. Enquanto arrumava minhas coisas ficava pensando no que havia acontecido em Resistência, imaginava se isso iria acontecer a cada cidade. Se era normal, se não era. Acredito que o mesmo acontecia com o Vini e o Gustavo. Ninguém se mexia enquanto arrumávamos as coisas, talvez por causa do sono, ou pelo silêncio com que fazíamos. Quanto eram 5:30 acordamos o pessoal, e seguimos arrumando tudo. Estava tudo pronto às 6:30 quando partimos. Informei para o grupo que estava acordado a noite inteira e que seria o primeiro motorista. Tínhamos uma reta de 700km para dirigir, os revezamentos seriam de duas em duas horas. Quando estava sentado no banco do motorista e que liguei a Kombi me veio uma pergunta a mente. "Porque partir para 700km de reta?", será que algo mais interessante, ou pelo menos a altura do que passamos por aqui aconteceria? Com a chave na ignição dei a partida na Kombi, 11168 era a kilometragem, agora rumo a rota que Cláudio, grande parceiro havia nos informado, no caminho as boas lembranças foram vindo a mente. E o teto preto da tristeza por partir deu lugar a alegria das boas lembranças. E pensei rapidamente, poderia voltar tranqüilamente qualquer dia, tinha em mãos todos os dados do pessoal. Ufa, mais tranqüilo segui pelas três avenidas, dobrei a direita, passei a primeira rótula e peguei a esquerda na segunda entrando definitivamente na reta monumental rumo a Salta.
Eu de motorista e Vini de co-piloto, não sei qual dos dois estava com mais sono. Mas nos mantínhamos acordados falando, rindo e relembrando os bons momentos com Soledad, Mória, Yanina, Cláudio e Andréia. Fazíamos de tudo para não bater o sono, que era quase que incontrolável, pois a famosa "retona" é realmente uma "retona", nada de curvas, por mais leve que fosse, nada de aclives, muito menos declives. Em suma uma reta muito chata, levei o carro por duas horas, muito longas, depois de entregar a direção para Paulo fui para o último banco e desmaiei. Dormi tão bem que cheguei a babar no travesseiro, e não fui só eu que fez isso...
Primeira parada em um posto, Paulo entrega a direção para Delon, abastece o carro e se abastece. Aqui pude perceber que o vidro do carro estava bem sujo, ao perguntar o que era o Paulo só aponta para o lado. A quantidade de borboletas voando era inacreditável. Muito bem, tínhamos que seguir viagem, passei para o banco da frente e sentei no meio, ia dormir mais um pouco pois seria o próximo motorista. Durante o caminho capotei novamente, agora Paulo aproveitou a minha sonolência e para aprontar uma comigo. Segundo ele estava jogando a cabeça para lá e para cá durante a viagem, ele foi dizendo. "Deita, deita.", levando minha cabeça até o seu ombro, e pronto conseguiu o que queria, tiraram a foto e logo depois me acordaram se matando de rir da minha cara.
Voltei a dormir, agora firme como um palanque, acordei com uns solavancos, era a Kombi em sua primeira estrada de terra, levantava poeira na estrada, mais algumas horas de viagem e muitas borboletas. As borboletas nos acompanharam por 300km, tinham momentos que a quantidade era tanta que só se via pontos brancos na estrada. Ao meio dia paramos para almoçar, comemos muito bem e por um bom preço. Depois de almoçar, escovar os dentes e dar um tempinho para a comida descer seguimos viagem. Durante o percurso devemos ter tirado umas 50 fotos só das borboletas na estrada, tamanha a quantidade e o nosso espanto em ver tudo aquilo. Era bonito de ver o vidro da Kombi, todo marcado.
Nos aproximávamos do próximo posto, local onde faríamos a troca de motorista e eu assumiria partindo dali. Chegamos no posto com meio tanque de gasolina, e o vidro completamente sujo. Rapidamente vieram uns gurizinhos para limpar o vidro, quando íamos pedir para que esperassem para tirar uma foto, já haviam jogado água e começado a limpar. Ao estacionar a Kombi para dar um tempo para o motor e para as nossas bundas que estavam quadradas, um dos meninos do posto viu o violão e começaram a conversar conosco. Pois até este momento só ficávamos nos olhando, o Vini ofereceu o violão para que um deles tocasse, todos em coro apontavam para um do grupo. Muito envergonhado pegou o violão e depois de muito insistir tocou uma música. Tocou muito bem, depois foi a vez do Vini tocar uma música. Ao término conversamos mais um pouco com as crianças que logo partiram para outro carro que chegava. Aproveitando a deixa, embarcamos também e seguimos viagem. Agora estava novamente no volante, com o Gustavo de co-piloto. As borboletas começaram a rarear na estrada, mas alguns kilometros mais adiante voltaram com força total. A paisagem não mudou uma virgula durante as duas horas que estive dirigindo, só o que tinha que fazer era manter a Kombi em uma linha reta, controlando com a folga na direção. Acho que era essa folga que não deixava o motorista dormir ou ficar cansado, se ela não tivesse essa folga certamente o sono viria com mais facilidade. Durante o percurso o primeiro susto com uma barreira policial, o guarda fazia sinal para pararmos, fui reduzindo de longe e pensando qual era o nome da próxima cidade. Depois de parar por completo ao lado do guarda, ele faz apenas duas perguntas. De onde vínhamos e para onde íamos, respondi sem alongar muito que vínhamos de Resistência e íamos a Salta. Ele deu mais uma olhada para dentro do carro e mandou que seguíssemos. Guiei o carro tranqüilamente até J. V. Gonzáles, totalizando até aqui 11753km. Completamos o tanque e nos reabastecemos.
Troquei com Paulo novamente, agora com ele e o Ronaldo na frente seguimos mais um bom trecho, partindo de Joaquin V. Gonzáles que a paisagem começou a mudar, ao fundo já se avistava a beira das cordilheiras. Salta ia ser a nossa parada, local indicado pela Soledad como um bom camping. Tínhamos idéia de como chegar, mas não tínhamos um nome em mãos. Seguimos cada vez mais contentes de que a reta ia acabar e que estávamos chegando nas cordilheiras. Agora a viagem parecia que ia mais rápido, dentre todos só o Delon e a Ale uma vez que outra dormiam. Mas o resto estava acordado, conversando, rindo, tirando fotos da paisagem. Quando finalmente chegamos ao fim da reta tínhamos duas opções, ir a esquerda ou a direita para Salta, é claro entramos a direita. Agora estávamos em uma "Free-Way na serra", a estrada de pista dupla de uma qualidade impecável, subia e descia a serra rumo a Salta, o fluxo de caminhões aumentou significativamente. Mais alguns minutos de viagem e Paulo entrega pela última vez a direção. Paramos na beira da pista, uma olhada no motor, uma mijadinha, esticar o esqueleto para depois seguir para o tal Camping.
Paramos na beira de um morro que ao topo, uns três metros acima, tinha uma árvore com algo estranho pendurado, ao ver mais de perto nos deparamos com uma enorme teia de aranha. Devia ter pelo menos umas 100 aranhas, isso se não tiver mais. Aquilo mais parecia uma cena do filme "Aracnofobia". Descemos o morro e seguimos, vai que as aranhas resolvessem nos atacar. Invadissem o motor da Kombi, corroessem os fios estragando os poucos circuitos elétricos do nosso carro? E segue a rota... , não por causa das aranhas, começamos a sentir frio à noite. Frio pede um "Juanito Caminador", abrimos o presente do "Negron", um litro de Johnnie Walker Red Label. Alguns goles já esquentaram. Que coisa boa é esse whisky, mais um gole em homenagem ao Negron, outro a viagem, outro ao Delon que não pode beber. De gole em gole, de barriga vazia, o álcool já estava pegando. Resolvi parar. O "Juanito" me deu uma porrada, pois o sono veio, entre uma piscada e outra já estávamos na entrada da cidade parados em um posto policial, onde o Gustavo e o Vini desceram para pedir as direções para o camping.
Com a ajuda do policial, voltamos a estrada e seguimos exatamente o que o policial havia nos dito. Em uma parte da estrada descemos por uma rua que parecia contornar a montanha. Dava para avistar toda a cidade de Salta, pena ser a noite, se aquela hora já era bonito de ver, imagina o que seria durante o dia. Passamos pela rodoviária, contornamos um canteiro pegando sempre a esquerda, depois a primeira a direita e seguimos até o momento que a rua se abria em duas, nos mantemos a direita, avistando um posto de gasolina entramos novamente a direita e seguimos até o camping. É impressionante andamos mais de 10km com as informações altamente precisas do policial. Chegando ao camping, um senhor de muito mal humor nos atendeu. Aqui os valores eram outros, dos 14 pesos, pulou para 40 pesos, chorando um pouco para o tio fechamos por 30 pesos. Entramos e para procurar um lugar o pessoal se espalhou e o Gustavo assumiu a Kombi. Caminhando pelo lugar, que era grande, vimos uma área mais acima, outra perto do lago, mas sem luz. Contornando o lago vimos uma área mais atrás com uma churrasqueira e uma mesa. Paramos ali mesmo. O Gustavo trouxe a Kombi, tiramos os apetrechos de cozinha e Paulo se atirou a fazer algo para comermos, a fome estava pegando.
Nossa agilidade para montar acampamento estava melhorando, quando paramos em menos de 10 minutos tínhamos varal, as duas barracas montadas, bandeira estendida e mesa posta. Só faltava a comida. Olhando envolta vi que um fio de luz cruzava a estrada, vinha parar na nossa árvore. Olhando melhor vi abaixo da mesa uma tomada. Pronto era o que precisava para ter luz, fiz um "gato" para o "rabixo" que tínhamos e pronto, agora 40W iluminavam o nosso acampamento. Comida pronta, suco feito, vamos jantar. Comi como um padre, e depois fui tomar um banho, uma ducha forte de água quente, o que não tínhamos em Resistência. Que banho! Voltando ao acampamento vi Paulo ao lado do lago analisando a água com a lanterna. Segundo ele era uma piscina e não um lago. Não acreditei que teria uma piscina tão grande assim, capaz é um lago dizia. Nessa de é lago, é piscina, é lago, é piscina, fui dormir. A comida, junto com a canseira e um banho quente não agüentei. Entrei na barraca maior com o meu saco de dormir, me arrumei e em menos de dez minutos estava dormindo.

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